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DUas

Lena

 

é Helena. detesta esperar. é inquieta. dança muitas horas por dia desde que se entende gente. escreve de madrugada. tem mania de fazer listas e bilhetes. prefere usar vestido, esmalte escuro e os cabelos curtos. acredita no instante, no imprevisto, na besteira. música é meio de transporte. é muito atenta para distrações.  e perde a chave, e a hora, e a data, com frequência.  o rumo, vez ou outra.  já perdeu a cabeça.  é comprovadamente incompetente para certezas, principalmente as absolutas.  mas tem certeza que os tímidos lhe interessam mais, sobretudo os com barba.  é contraditória. não tem religião. mas crê na união dos corpos, na des-invenção dos pecados, na paixão, na arte e em vida extraterrena.

 

Lola

 

Olhos grandes. Segura por fora e por dentro tímida e,  às vezes, confusa. Intensa nos gestos do rosto quando fala e nas mãos que voam ao compasso de suas palavras. Fala rápido, pode mudar de língua de repente, ou cantarolar músicas que só ela sabe. Continua bonita. Um pouco misteriosa, não mostra muito, vai deixando ver em doses homeopáticas. Em confiança, critica com humor ácido. É direta e clara, mas com sofrimento, e também cala muito. Tende a persistir. Coleciona janelas e frases e adora mergulhar na água – melhor se é doce – e nadar como um peixe. O riso de Lola é um desabafo, uma prenda da qual despir-se, como de uma meia calça, como de um ropão numa praia. Gosta das mãos dos homens, de alguns lábios. Anota momentos e lê Clarice. Rega um jardim imaginário onde crescem pensamentos e margaridas em volta duma varanda  e um balanço. Fuma umas três vezes no ano. Só às vezes no salto, não prescinde do batom – vermelho.

 
 

 

 
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