top of page

Da vida, dos lugares, das viagens, dos processos.... Andar. Brincar. Olhar para fora da vitrine. O olhar, primeiro, de uma e outra,  a palavra e o texto, de duas, logo e depois. Ensaiando dar conta dos gestos, movimentos e desfechos... Para entender algo ou não entender nada.

observa

tório

AQUI PRA VOCÊ!!!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Não há ninguém perto de mim!!!

– Como é? Onde vc tá?

– É a mensagem que aparece no Tinder!!! ‘Não há ninguém perto de você!’

– Tinder?

– Sim! Acabei de fazer um perfil.

 

E Lola me explica, pelo messenger, detalhes desta sua súbita inserção no que, tratando-se de apps de relacionamento e segundo alardeiam, the best!

 

Tirando as casadas, que estas não revelam nada, parecem que todos(as) andam mesmo jogando suas iscas nessa imensa rede. Nenhuma novidade. Mas o Tinder é fenômeno no Brasil, numa busca rápida vi que em 2014 era um dos três países do mundo com mais usuários.

 

Bom, fiquei curiosíssima pra ver esse negócio que afirmava que não tinha ninguém perto de Lola! Como assim, ninguém! Que porra é essa?  À noite antes de voltar pra casa, passei no apartamento de Lola pra me inteirar do fato.

Naquela altura o Tinder já informava que em um raio de 100 km haviam alguns homens, 20 mais ou menos, dentro da faixa etária que Lola indicara. Mas isso não fez a menor diferença. A mim pareceu que nesta área só haviam homens machistas e bobos. Digo isso com tranquilidade, sem medo de parecer arrogante.  Se não eram os textos de apresentação, do tipo “melhor que eu, só existiu meu pai”, eram as fotos que denunciavam uma tolice brochante. No tempo que estive lá com Lola, não vi nada que não tenha me parecido no mínimo tosco. Parece preconceito, mas não tenho! Fiquei pensando sobre isso e fiz uma rápida pesquisa na dinâmica de outros sites. Cheguei a modesta conclusão de que o Tinder é um app que se presta ao tempo fluido de hoje. Ele é mais rápido que miojo. Preguiçoso. Vem pré pronto, faz link com o Facebook, não se dá ao trabalho de perguntar nada. Ou seja, o usuário também não tem trabalho algum, não precisa responder questionários longos a exemplo de outros sites.  No Tinder é flirting super fast.

 

A questão é que parece não funcionar. Se o algoritmo utilizado para fazer combinações de perfis se baseia no Facebook do usuário, em suas atividades e campos de interesse, este filtro, no celular de Lola, deu problema, não funcionou!

 

Mais parecia um catálogo aleatório de pessoas que estão a determinada distância e supostamente na faixa de idade assinalada.  Aliás, essa parte é hilariante, tem gente que diz que tem 109 anos e, na foto, cara de 12.

 

Gosto deste mundo virtual, muito na verdade. Mas tenho minhas rebeldias.

– Não tem ninguém perto de você! 

Ah tá, sabido! Aqui pra você, ó!

 

NÃO CHUPA?!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A noite passada assisti a um bate-papo entre mulheres duas brasileiras e duas espanholas sobre homens e, falando de um parceiro amoroso, logo uma das mulheres brasileiras pontuou que ele não fazia sexo oral. Como, não chupa??? – perguntou a outra. Não chupa?? Não acredito, não pode ser, e você ainda gosta dele? Não acredito..... Não pode, tem que chupar..... Se não chupar não rola.... Se não chupa, eu não fico. E logo, logo, entre brincadeiras e risadas de espanto ficou estabelecida na mesa a obrigatoriedade do sexo oral no amor, requisito imprescindível para uma boa trepada e mais ainda para uma boa relação amorosa, de modo que em caso de reincidência na falta, o descapacitado cai logo na lista de suspeitos de crime no amor, de egoísmo machista e, claro, definitivamente amante impossível.

 

Nesse papo solto e descontraído sobre as habilidades sexuais dos parceiros, as espanholas falávamos pouco. Comentamos superficialmente alguma coisa mas no geral pouco dissemos. No meu caso, duas coisas me surpreendem e me abrumam ao ponto de ficar calada e incapaz de contradizer a contundência dos juízos: uma a soltura, facilidade e extroversão das duas brasileiras para falar num grupo de mulheres rapidamente dos detalhes de sua vida sexual, outra a importância extrema que se dava às habilidades no sexo oral de seus parceiros. Não é a primeira vez que assisto a conversas deste tipo e sempre me surpreendem e me descubro reagindo com silêncio, sendo incapaz de expor meu olhar ao respeito. Penso que é uma mistura de timidez e reserva pelo fato de para mim ser essas questões absolutamente íntimas e só compartidas excepcionalmente com alguma amiga muito íntima ou comentadas com humor mas sem muitos detalhes e também por uma espécie de encolhimento perante tamanha força afirmativa e aparente exuberância sexual.

 

Um estudo internacional feito em diversos países do mundo para um portal de encontros amorosos, afirma que para a maioria das mulheres, a qualidade mais valorada num homem é senso do humor, só as alemãs destacam a inteligência e as brasileiras priorizam as habilidades do parceiro no sexo oral. 

 

A primeira vez que ouvi comentar este estúdio se confirmou minha suspeita de que essa atitude perante o sexo é uma das diferenças culturais que sinto como mulher estrangeira em relação às brasileiras.  Por outra parte me pergunto quanto de verdade sobre a verdadeira vida sexual e amorosa tem nessa atitude, pois me resulta muito difícil acreditar que, com a experiência de vida e a maturidade, uma mulher possa assegurar que o sucesso de uma relação amorosa dependa disso. Todos sabemos quanto particular e subjetiva é a sexualidade de cada pessoa e como não tem regras para nada e menos para o amor. Claro que o sexo oral é muito prazeroso e mais se se dá dentro de uma relação aberta ao outro e plena. Mas também sabemos que a intensidade do amor depende tanto de outros fatores...  Podemos ser bem mais felizes com um homem que o faz pouco ou com não tanta habilidade mas que desperta nosso interesse e atração por muitos outros múltiplos fatores entre eles o humor, a qualidade da intimidade, a cumplicidade, o cheiro, a química, etc. que com outro mais experto amante que, a pesar do prazer que pode nos dar nesse quesito, nos entedia em outros.

 

http://www.zoomnews.es/477233/estilo-vida/sexo/estudio-internacional-revela-que-las-espanolas-buscan-humor-antes-que-placer

Meu filho de 14 anos começa um namorico com uma menina da escola que tem a mesma idade, primeira experiência no terreno amoroso dele e muito provavelmente dela também.

Dos meses depois, sem muita explicação de detalhes me diz, pelo telefone, muito sentido, que ela ficou muito brava com ele e acabou o namoro. O que aconteceu meu filho? Ele me diz chorando que não pode falar que precisa conversar com ela e resolver as coisas que está indo na escola a procura-la. Não sei por que, eu, mulher, pressinto já condutas femininas tão conhecidas, e sinto logo uma voz interior minha que me coloca em guarda sobre o drama todo e lhe digo meu filho não fique louco perseguindo ela com essa urgência, pense, de um tempo, se você não fez nada errado, fique na sua, não suplique, não persiga, não entre nesse jogo... vocês estão começando a aprender a jogar nesse jogo.... é assim mesmo, não acaba o mundo....

Antes de saber os motivos do desencontro deles, visualizo logo todas essas condutas que eu conheço, tão frequentes nas mulheres, especialmente na juventude, antes da experiência te ensinar algo, que colocam o relacionamento, logo no começo, perante o primeiro incumprimento das expectativas delas por parte do rapaz, num drama de cobranças, exigências, regras, juízos... Talvez estou errada e meu filho a tratou mal, mentiu, foi desonesto... qualquer conduta inaceitável ao ponto de acabar abruptamente um relacionamento. Mas intuo que não, e começo já, antes de saber, a refletir um pouco sobre essa forma de agir e como ela se manifesta logo nas meninas já de adolescentes quando começam a se relacionar com os rapazes, e quanto ela prejudica os relacionamentos saudáveis entre homem e mulher, quanto vai ter que errar essa menina com ela mesma,  sofrer, até amadurecer o suficiente para conseguir controlar esse instinto, desconstrui-lo, mudar o foco, se fazer mais sábia e respeitosa da liberdade do outro, da diferença, abandonar as roupas de dama e princesa para se permitir ser mais livre, mais ela mesma independente do outro, e construir vínculos com outras regras.

Três o quatro dias depois me explica meu filho que conversaram e decidiram mesmo deixar tudo por aí mesmo e me da os detalhes do desencontro. A raiva toda era porque ele saiu da escola com um amigo sem contar com ela, e reclamava da pouca atenção dele, de não lhe dedicar mais tempo, de não assumir com seriedade o compromisso, de não priorizar o tempo deles.... ele não era maduro o suficiente para assumir um relacionamento. Meu filho falava aliviado de alguma forma, está melhor assim, ela quer algo muito sério, eu não consigo fazer esse papel, eu naõ quero deixar de me divertir com meus amigos....

Oh meu deus do céu, catorze anos e toda essa seriedade, esses princípios absolutos, essa necessidade de atenção, de exclusividade, e essa forma de lidar com o outro baseada na cobrança, a exigência, em não dar espaço para a própria liberdade, para o mundo próprio.... Essa necessidade de ter o homem aos pés, de controla-lo, essa incapacidade para conviver com a incerteza, a própria insegurança. Claro que é muito nova, é o começo da aprendizagem, a experiência vai lhe ensinar, vai ser um dia mais sábia, menos maximalista..... Mas voltei de novo à minha reflexão sobre os roles que assume a mulher, essa educação sentimental herdada que nos leva as mulheres a reproduzir essas condutas de princesa ofendida e colocar o homem na situação constante de se ter de redimir e, no caso de não aprender, não refletir ao respeito, nos condena a relações imaturas, doentias e infelizes, nas quais o foco é sempre o homem  - o que ele faz ou não faz – em vez de ser nós mesmas, nossas necessidades, nossa própria liberdade. Quatorze anos e ai está tudo isso em estado puro. Ponto de partida.

"Um homem bonito, se não for sexy, já não é bonito"

me disse Lola, que só gosta de homens bonitos.

bottom of page