cago para os muros

queria começar de um jeito mais delicado… mas o mote venceu

Hoje à tarde passando de carro numa avenida movimentada da cidade e vejo a cena: um camburão parado em frente a uma casa, alguns um policiais na calçada, um policial urinando no muro da casa. A primeira coisa que pensei, registrar, a segunda, deixar de ser imbecil. Claro, eu estava dirigindo, não daria tempo e seria uma bobagem. Quer dizer, não é uma bobagem um policial urinando, às duas da tarde, num muro de uma casa, numa avenida movimentada da cidade. Mas, honestamente, um registro disso, diante de todos os registros que se sucederam e foram amplamente disseminados nos últimos meses, me pareceu ridículo.

Depois fiquei pensando o quanto essa imagem do policial mijando no muro de uma casa de um bairro nobre, se prestava a uma metáfora desses tempos recentes. Não foi o caso (a autoridade urinou por hábito apenas), nem estou, com isso, defendendo que homens urinem em muros de casas ou em postes, como cachorros. Eu que cago para os muros, não arrio as calcinhas no meio da rua e cago nos muros. Só cago para os muros. O que é muito diferente e mais civilizado do que urinar nos muros.

Mas voltando a metáfora, muros (ou a ideia que sugerem) viraram assunto preferido nos últimos meses, top trends (mesmo que a palavra ‘muro’ nem fosse mencionada), todos os caminhos levavam a eles! E era gente em cima do muro, gente erguendo muros, gente fingindo nunca ter visto um muro na vida, gente admitindo que seus muros datavam do Brasil Colônia com muito orgulho e daí?, até muros medievais apareceram por aqui!

Claro que iniciamos a semana lembramos os 25 anos da queda do muro de Berlim. O da Cisjordânia está lá. O de Berlim também está, não deixará de estar, deixou de ser . É bom que esteja para que não mais seja. O da Cisjordânia está lá. E é. Que muro é barreira, segregação… Para alguns, proteção, ou seja separação do perigo suposto. Creio que foi neste muro que o policial urinou. Concreto e fantasioso.

#lena #metáforas #segregação