tempo morto

Dos casais no café do cinema. Domingo pela tarde. Um é jovem. O outro de idade madura, cabelos grisalhos. Cada um numa mesa diferente. Todos ocupam o tempo na tela, do celular os mais velhos, do notebook os jovens. Não falam. Mechem concentrados as telas. Sem interrupção.

Fico um tempo tentando comprovar se os jovens estão juntos. Talvez são estudantes e vieram no cinema para descansar do estudo e aproveitam o tempo de espera para trabalhar ainda um pouco – quem sabe não têm amanhã a entrega de um projeto, um trabalho. Depois de um bom tempo, a menina jovem fala a seu parceiro, abandona por uns minutos a tela e olha para ele, toca seu cabelo. Então ele decide compartilhar com ela o que está vendo, lhe dá os auriculares e assistem e escutam algo juntos na tela dele - uma música talvez. Ela apoia a cabeça no ombro dele e nesse momento breve há uma cumplicidade tenra entre eles. É rápido. Depois ela boceja, lhe devolve os áudios e volta à própria tela.

O casal de idade continua concentrado nos seus celulares. Silêncio completo. Cero interação.

Em breves instantes abrirão a porta da sala e entrarão todos, os quatro, assistirão o filme e voltarão a casa depois.

Quando me levanto eu para entrar vejo a mulher do casal mais velho que coça carinhosamente as costas dele enquanto continua mexendo no celular.

#cafe #celular #cinema #notebook