ainda tem alaska

Não há ninguém perto de você” diz a tela. A frase existe por si só, flutua em volta o tempo todo – mesmo não querendo ligar muito para ela – no ar, na cama, na mesa do restaurante, no barzinho, na loja de roupa de homem… Mas também o aplicativo? Essa não esperava….

Vamos procurar por aqui mesmo, feito promoção em loja de departamentos, todo mundo acha o seu, então eu não vou ser menos. Vamos lá com o catálogo. Mas, meu deus, quantos rostos e fotos absurdas. Descarto um e outro e outro e esvazio o arquivo todo de homens….

Não é possível. Passado um tempo, outra tentativa e de novo, não há ninguém por perto. Uma cidade enteira de homens desconhecidos registrados na nuvem louca de um aplicativo. Vamos mudar então o perfil de idade, vou abaixar mais um pouco, de 35 a 51. De novo a galeria dos horrores. Apago. Apago. Apago. Como é possível que todos esses homens tenham tão pouca noção do poder que tem uma imagem? Homem que diz ter 40 olhando para abaixo num espelho mal iluminado de um banheiro cinzento sem camisa fazendo foto com celular. Homem que se diz conhecedor da alma feminina, que admira a “mulher – mulher”, suas curvas (suas curvas!), suas necessidades, sua alma de deusa… Que homem é esse e para que mulher ele está falando? Ah! Pera aí, um homem com jeito charmoso , “mas sacana” – diz Lena depois quando lhe mostro – “é casado, com certeza”. Aperto o corazãozinho. Escolhido. Opa! Combinamos. Ele me marcou também. Depois silêncio. Cadê a conversa? Por enquanto não me responde. Mais fotos. Homem que não é ele, é um menino pequeno em foto em preto e branco. Homem de cueca com a mão dentro da cueca. Homens e homens sem camisa, barrigudos, bigodudos, tatuados, musculados. Homem com foto acompanhado da mulher e o filho. Homem vestido com camiseta de time de futebol. Garoto de 17 que diz idade de 60. Homem que se apresenta como o segundo melhor pai do mundo depois do pai dele. Apago. Apago. Apago. Apago. Parou. “Nõ há ninguém perto de você”. Acho que esgotei o catálogo. Não há ninguém perto, mesmo. Nem no Tinder. Mas ainda tem Alaska.”

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