no escuro
- Lola
- 29 de mar. de 2016
- 1 min de leitura

Ninguém sabe o que o outro é, o que pensa, quais as intenções, os desejos. A dois milímetros de mim, seu braço. Inclino o rosto levemente à direita e escuto seu aroma, meu olfato. Queria mergulhar no seu pescoço e cheirar. Bem forte. Tentativas só. Uma ponte. Mas sou prudente. Ninguém sabe onde pisar ou como percorrer ou caminho. Em que ponto pular. Ficar observante não serve. É só talvez mais fácil. Mais ingrato. Duas figuras olhando para o rio, sem atravessar a ponte. Uma certa cegueira, andar no escuro. Não arriscar, olhar só a água, ver o filme. O que é mais espesso, o espaço que não se cruza ou o pensamento embutido no que não se fala? O que é mais denso, a vontade que aponta e nada faz ainda ou o arrependimento dos gestos não feitos, depois? Há uma dança invisível de passos se arrastando pelo salão, cuidadosamente, dos bailarinos. Há uma vontade contida nela de entrar na água sem avisar, se salpicar toda. De nada adianta a espera. Pesa muito mais o nada. E o tempo que passa.
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