asco
- Lola
- 9 de out. de 2016
- 2 min de leitura

É uma atitude, uma forma de olhar, uma maneira de invadir o espaço físico da outra pessoa – neste caso mulher – um espécie de intromissão na vontade própria dela, um arrogar-se o direito de dizer ou saber – só ele – o que tem que ser feito, um trato que pressupõe que ela está errada, que ela não sabe, não vai saber nunca, que pressupõe que ela é culpada sempre, que ela o incomodou, ousou tocar, bater, se acidentar no carro dele que é o poder dele, a potência dele, o domínio dele... Uns gestos, um tom de voz que sem gritar, acompanhado pela energia agressiva que desprende todo o resto de coisas que ele faz, os direitos que ele se da, o espaço que ele invade, é violento. Eu como mulher sinto violência, agressividade, ameaça que não é visível para os outros, que andam pela rua e não estão dentro da cena, mas evidente até o ponto de me sentir sufocada, invadida, menosprezada, maltratada, até o ponto de, enquanto tento lidar com a situação e manter o controle de meus nervos, meu medo, minha confusão, pensar no que deve ser feito, lutar para me defender, enquanto nado com dificuldade nessa situação, vivo por dentro um aperto, um sufoco, um nó que só depois de sair dela e dirigir sozinha no carro vasa e eu posso chorar de raiva, de impotência. Todas sabemos o que é isso, todas o sentimos em múltiplas circunstâncias das mais corriqueiras e anódinas e desde pequenas nadamos como podemos para evita-las e nos defender delas, quase sempre calando, nos encolhendo, evitando o confronto, mas violentadas, engolindo a sal de se sentir violentadas. Cultura do estupro. Que asco…
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