dentro
- Lola
- 22 de dez. de 2016
- 1 min de leitura

caem pesadamente os cortinões
as luminárias pesam toneladas no teto transparentes
no salão dos espelhos tudo é amarelo e brilha de tanto ouro e cristal
tanta verticalidade majestosa hierática pomposa
tudo é gesto imperativo máscula autoridade representação
nos aposentos do rei vejo só duas linhas de fuga:
1.o jardim atrás dos vidros imensos das janelas onde certos pássaros quebram simetrias no ar gelado que agita as poucas folhas que restam do outono
2.a pequena fenda aberta nas cortinas que envolvem o dossel da cama por onde se vislumbra apenas um pequeno detalhe da colcha, do ar que talvez respirou o home sozinho uma noite dentro dos lençóis a escuras sem o traje de rei jogado na poltrona
pelo contrário pode ver-se algo de belo e cálido nos aposentos das damas
algo como um tecido fofo para cuidar-se por dentro
um espaço para o íntimo um refúgio
almofadas telas poltronas pianos livros canapés
cantos para o aconchego o deleite a música a leitura deitar ficar ao calor
algo que olha no coração e acolhe dentro
certa espessura no ar pó de vida
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